Há 100 anos, o Vasco da Gama mudou a história do futebol brasileiro na luta contra o racismo. O Cruzmaltino foi campeão do Campeonato Carioca de 1923 com um time formado por atletas negros, pobres e analfabetos. Um marco para a história do futebol brasileiro que, à época, era elitista e preconceituoso.
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A TNT Sports relembra, neste Dia da Consciência Negra, a história dos “Camisas Negras” e do Vasco, o clube de futebol pioneiro na luta contra o racismo, como um tributo ao passado e uma missão para empoderar o futuro. Afinal, nessa luta antirracista, cada preto é uma conquita!
1915 – A criação do futebol no Vasco
O Clube de Regatas Vasco da Gama foi fundado em 1898 ainda como um clube de Remo, que era o esporte mais popular da época. Foi só em 1915 que o Vasco entrou para o futebol e já começou inovando. O primeiro elenco foi formado em 1916 e o Cruzmaltino foi atrás dos jogadores independente da classe social o da cor da pele.
Assim, o time foi formado por jogadores periféricos e disputou a Liga Metropolitana de Esportes Atléticos, que era como a terceira divisão do Campeonato Carioca. E logo no primeiro ano de existência acabou campeão.
Em 1919, o Vasco começou a melhorar o elenco, ainda sob o viés de contratação de bons jogadores, independente da cor ou classe social. O Gigante da Colina tinha entre suas peças o goleiro Nelson, que era negro. Leitão e Mingote na defesa, que à época eram acusados de serem analfabetos, Nicolino e Bolão, também negros, que jogavam no meio de campo, além de Artur, Paschoal, Torterolli, Arlindo, Cecy e Negrito, que fizeram parte do elenco de 1923, que ficou conhecido como “Camisas Negras”.
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1923 – Camisas Negras desafiam o preconceito

Em apenas seis anos, o Vasco chegou à Primeira Divisão da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres, onde viria a ser o vencedor do Campeonato Carioca de 1923. O sucesso do Cruzmaltino estava nos negros, multatos, brancos, pobres e bons de bola. Além disso, para manter os atletas no time em uma época em que o futebol era amador, comerciantes portugueses registraram os jogadores como empregados nas suas empresas.
Essa foi a maneira que o clube encontrou de burlar a exigência do amadorismo. Com uma campanha quase perfeita de 11 vitórias, dois empates e apenas uma derrota, o Vasco conquistou o primeiro título de Campeão Carioca da história do clube.
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O apelido de “Camisas Negras” surgiu com as vitórias sobre os clubes de menor expressão e a sequência de vitórias sobre os clubes da elite: Fluminense, Flamengo, Botafogo e America. O time foi ganhando fama de imbatível e ficou conhecido pelo uniforme caracterísco preto, ainda sem a faixa diagonal, com a gola branca e a cruz vermelha no peito.
Os heróis daquela conquista foram Nélson, Leitão e Mingote; Nicolino, Claudionor e Artur; Paschoal, Torterolli, Arlindo, Cecy e Negrito, que além de campeões cariocas, foram campeões fora de campo, desafiando o racismo e o preconceito.
1924 – A resposta histórica
No ano seguinte ao título carioca do Vasco, em 1924, os grandes clubes (Fluminense, Botafogo e Flamengo), além de Bangu e São Cristóvão, abandonaram a Liga Metropolitana e fudaram a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (A.M.E.A). Assim, o Campeonato Carioca seria organizado por uma nova liga, mas tinha regras e estatutos racistas e preconceituosos, que tinham como objetivo excluir as pessoas negras e pobres do futebol.
Os clubes não poderiam inscrever jogadores sem profissão definida e analfabetos e o principal alvo dessa nova regra era atingir o Vasco, que tinha em seu elenco a maioria de negros, pobres e pessoas sem alfabetização. O Cruzmaltino foi convidado a participar da nova liga, mas se recusou, pois não queria abandonar seus jogadores. O ato ficou conhecido como “Resposta Histórica”.
“Quanto á condição de eliminarmos doze dos nossos jogadores das nossas equipes, resolveu por unanimidade a Diretoria do C.R. Vasco da Gama não a dever acceitar, por não se conformar com o processo porque foi feita a investigação das posições sociaes desses nossos consocios, investigação legada a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa. (…) São esses doze jogadores, jovens, quasi todos brasileiros, no começo de sua carreira, e o acto publico que os pode macular, nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que elles com tanta galhardia cobriram de glorias. Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V. Exa. que deisitimos de fazer parte da A.M.E.A.” (sic).

2023 – 100 anos da história dos Camisas Negras
Depois de recusar o convite para fazer parte da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (A.M.E.A), o Vasco segue na Liga Metropolitana de Desportos Terrestres e sagra-se campeão novamente em 1924. Já no ano seguinte, em 1925, o Gigante da Colina foi convidado a particimar da A.M.E.A sem ter que abrir mão de seus jogadores e venceu, de vez, o preconceiro. Ainda no mesmo ano, comprou o terreno que em 1927 viria a ser inaugurado o Estádio de São Januário, construído com suor e dinheiro da própria torcida, em mais um ato de resistência contra o racismo.
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Desde que foi fundado, o Vasco tem um papel muito importante na luta contra o preconceito racial no futebol brasileiro. Além de ser um clube de massa, que agrega torcedores de diferentes raças e classes sociais, o clube brigou, dentro de campo, pela inclusão do povo preto e pobre no esporte.
Em 2023, a história dos “Camisas Negras” completa 100 anos e nos lembra que um grande passo foi dado, mas ainda há muito o que caminhar.